Tanzânia - meu amor!
- carla1866
- 12 de fev.
- 3 min de leitura
A Tanzânia me encontrou antes mesmo que eu soubesse da sua existência. Foi só quando comecei a pesquisar sobre o lugar para onde eu iria trabalhar no mundo social que descobri essa terra de contrastes, de uma natureza única e deslumbrante. Mas por que, afinal, eu nunca tinha ouvido falar dos teus safáris?
Pra quem ainda não sabe, sou bióloga aposentada, mas minha infância inteira foi cercada pela natureza. Cresci entre árvores, bichos e o vento no rosto. Sempre amei os animais e, no fundo, fazer um safári era um daqueles sonhos guardados no peito.
Quando começamos a pesquisar os valores. Não dava. Nem com um orçamento apertado, nem com a conversão nada amigável da nossa moeda. Então aceitei e segui… Quer dizer, mais ou menos. Continuei pesquisando, me aventurando em buscas na internet e nas redes sociais. Até que encontrei um safári BBB. Parecia até suspeito. Mas assim fui, feliz e animada por viver essa experiência justamente no meu aniversário.
O dia chegou. Partimos do Quênia – um país que tem me ensinado e transformado de tantas maneiras (mas essa história fica pra outro dia) – e seguimos rumo a Arusha. E ali, eu esperava algo diferente… O que vi me fez questionar muita coisa.
A Tanzânia grita desigualdade. É impossível chegar a um local turístico sem cruzar com a vulnerabilidade que marca a vida da maioria da população. De um lado, a natureza bruta e incrível. Do outro, um povo esquecido. Aquela Tanzânia que eu vi na internet era só um recorte. A realidade invisível, para mim como vocês imaginam, se tornou impossível de ignorar.
90% da população sobrevive com menos de 4 dólares por dia. O acesso à água potável ainda é um desafio diário para milhões. Mulheres morrem durante o parto por falta de atendimento médico. E ser mulher na Tanzânia é um desafio diário. A violência doméstica é frequente e, mesmo sem entender a língua, os corpos falam. Casamentos infantis ainda acontecem em muitas regiões. Muitas meninas abandonam a escola para cuidar da casa ou porque engravidam cedo demais. E o que mais me doeu: em algumas comunidades, mulheres ainda passam pela mutilação das partes intimas.
E então me pergunte novamentei: o que é cultura? O que é tolerável?
A Tanzânia tem os safáris mais lindos do mundo, paisagens de tirar o fôlego, mas por que não é tão visitada quanto a África do Sul ou o Egito? Porque a pobreza está ali, evidente, incontornável. Ao lado dos hotéis de luxo, há bairros sem saneamento básico. Ao redor dos safáris, crianças dormem sem saber se terão comida no dia seguinte – e muitas delas nos doamos nossas comidas nesses dias.
Foram mais de 4.000 km percorridos. Uma imersão que nunca vou esquecer. Sabe por quê? Porque a Tanzânia ensina resistência.
Aqui, a vida segue no ritmo do Hakuna Matata – sem problemas, meu amigo. No compasso do Pole Pole – devagar, sem pressa. Vivi incontáveis celebrações tradicionais, cantei, dancei, aprendi que é tradição cortar o bolo imediatamente para ter sorte. Troquei sorrisos em cada jambo dito com alegria.
Vi jovens que sonham, apesar das dificuldades. Comunidades que se fortalecem porque sabem que ninguém vence sozinho. Pessoas que protegem e amam a sua natureza selvagem. E sorrisos – sorrisos largos, abertos, mesmo sem dentes, porque aqui o que importa é sorrir com a alma.
A Tanzânia me transformou. Eu voltarei. Todas as vezes que eu puder, eu voltarei. Porque esse foi o lugar mais mágico que já conheci.





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